A região vitivinícola da Bairrada localizada em Portugal, possui uma casta especial, considerada a rainha destas terras, a Vitis vinífera BAGA. Esta cepa representa na atualidade cerca de 50% do encepamento da região, e apresenta atributos como poucas uvas no mundo possuem quanto a sua versatilidade para vinificar vários estilos de vinhos diferentes. Este é o motivo principal que fazem inúmeros entusiastas a terem como a melhor casta do mundo e a propagarem as suas características vínicas. Segundo O Grande Livro das Castas do autor Jorge Böhm, ela recebe inúmeros outros nomes de sinonímias como, Paga Dívida (Dão), Poeirinho (Coimbra, Cantanhede, Ribatejo), Tinta da Bairrada (Douro), Carrasquenho (Tomar) e Baga de Louro (Dão e Bairrada).
1. Ampelografia e a Baga
A ampelografia é o estudo da botânica que identifica e classifica as castas de Vitis. Esta ciência se baseia na descrição morfométrica das características dos vários órgãos da planta. Acredita-se que devam existir cerca de 10.000 tipos de cepas diferentes, na atualidade estão catalogadas 5.000 castas de videiras. A Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) estabeleceu 88 descritores ampelográficos que descrevem uma casta, trabalho extremamente especializado e também pode ter influência de subjetividade. E devido estas observações em geral serem complexas e sujeitas a interpretação, nos dias atuais tais descrições estão sendo substituídas pela determinação do perfil genético das plantas com base em seus DNA.
A BAGA é uma Vitis vinífera autóctona de Portugal que apresenta-se com abrolhamento em época média e maturação tardia, o que requer muita atenção nas vinhas. Alguns descritores ampelográficos da BAGA são, folhas adultas apresentam tamanho médio, de forma pentagonal com a presença de 5 lóbulos. Seus cachos são de tamanho médio, cônico, compacto, pedúnculo de comprimento médio. O bago desta uva é de tamanho pequeno, compacto, arredondado, de cor negro-azul e com película de boa espessura.
Crédito de Imagem: Livro ‘Os Vinhos da Bairrada’, autores Mário Saraiva Pinto, Antônio Fevereiro Chambel e Homem-Cardoso
2.Cuidados na Viticultura e Maturação da Baga
Como tudo na vida, o que é bom tem suas “melindrinces”, e a casta BAGA não é diferente desta regra. Na vinha a casta tem a característica de vigor médio a forte, adapta-se a todos os tipos de solos, mas tem melhores condições de produção para vinhos qualitativos em solos de média ou baixa fertilidade e humidade, e que sejam bem drenados. O controle da produtividade desta casta fornece matéria-prima de excelente qualidade para a elaboração de grandes vinhos.
Por ter maturação tardia, sempre está sujeita as condições adversas dos intempéries da natureza sobretudo na parte final do ciclo de maturação. Na Bairrada em seu lar, por sofrer uma pressão grande das condições climáticas do Atlântico, ocorre em alguns anos, que a maturação não consegue ser atingida na perfeição em algumas zonas propensas a mais chuvas nestes período, mas claro que isso quando se estar objetivando a produção de vinhos tintos. Os vinhos espumantes, rosés e até os novos brancos tranquilos com Baga (Blanc de Noir), não sofrem com isso, pois as suas uvas são vindimadas mais cedo, buscando preservar maior acidez, menor teor de açúcar e menos compostos corantes.
3.Versatilidade de Produção Vínica com Baga
Os advogados da BAGA são muitos para todo o lado, mas há algo muito comum entre todos eles nas argumentações utilizadas em sua defesa como a MELHOR CASTA DO MUNDO. Devido características peculiares a casta, ela permite produzir um vasto número de estilos de vinhos diferentes, fator raro no mundo das Vitis. Ela produz desde espumantes elegantíssimos de longa guarda, espumantes de consumo rápido, espumantes tintos, espumantes rosés, espumantes blanc de noir, espumantes blends, vinhos brancos tranquilos “blanc de noir”, vinhos rosés, vinhos tintos de consumo contemporâneo e vinhos tintos de longa guarda, este último foi como ela ficou mais conhecida, por seus vinhos de décadas em garrafas.
Entender detalhes sobre a sua vinificação permite perceber como os enólogos e produtores a trabalham desde quando está na vinha, vislumbrando o estilo de vinho que desejam elaborar. As suas características moleculares são o fator chave do trabalho com a BAGA, e claro que para isso é preciso conhecimento técnico especializado e muita experiência, e isso os BACOS bairradinos o tem de sobra e a trabalham na perspetiva de tirar o seu melhor.
Do ponto de análise mais fundamental da BAGA no quesito da vinificação, podemos elencar o trabalho com os seus taninos como sendo o ponto crucial desta cepa de forma geral. Apesar de não ser a casta com mais polifenóis, com mais “taninos”, quando comparada nas mesmas condições de cultivo com outras cepas. Mas apesar disto, o que distingue a BAGA das demais castas é o tipo dos seus taninos. São polifenóis curtos, pouco condensados e pouco polimerizados, segundo a descrição do responsável técnico pela Estação Vitivinícola da Bairrada, Eng. José Carvalheira em conversa no Episódio n.101 do BacoCast. Trabalhar adequadamente os seus taninos é o desafio dos produtores e enólogos que a tem como matéria-prima para elaborar seus néctares tintos.
4.Vinhos de Baga
O melhor da BAGA está de fato quando ela se mostra na taça, a capacidade de elasticidade em produzir tantos vinhos de diferentes em estilos, e inúmeros ditos “SOBERBOS” pelos mais exigentes enófilos, sem dúvida a torna SINGULAR nesta terra bairradina de Bacos.
Espumantes com BAGA aportam complexidade e estrutura a estes vinhos tão delicados e elegantes. A marca BAGA-BAIRRADA foi criada na região para estabelecer um certo “padrão” a algumas exigências vitícolas e enológicas para poderem ser conhecidos no mundo dos vinhos com a identidade da Bairrada. Claro que cada produtor que possui em seu portfólio este sofisticado vinho expressa o próprio caráter da sua casa, deixando assim os amantes de espumantes deslumbrados para quererem provar todos os mais diferentes que possam ser produzidos com este perfil de marca. Um bom pairing para este estilo de espumante é o leitão à Bairrada, pratos de mariscos e um risoto de camarão.
O termo BAGA CLÁSSICO, utilizado na região representa vinhos tintos que foram vinificados de forma especial e que passam por estágio em barrica, apresentam excelente estrutura, muito corpo, taninos marcados e boa acidez, onde esses atributos lhes conferem um grande potencial para o envelhecimento. Este é o estilo de vinho com a casta BAGA que é mais conhecida pelos enófilos ao redor do mundo, e se você leitor que está lendo este artigo ainda não o provou, fica o convite para degusta-lo em mesa, pois este estilo de vinho é bastante gastronômico. Uma boa sugestão para acompanhar um prato de chanfana, um guisado de carne bovina especiada e até bife à Bourguignon.
Tantos são os vinhos que podem ser produzidos com a casta emblemática da Bairrada, a BAGA, que eles podem acompanhar todos os momentos da vida dos enófilos. Há sempre um tipo de BAGA para cada ocasião, e esse é o maior atributo desta casta AMADA por tantos, e que causa alguma desconfiança pelos que ainda não a conhecem bem, e claro que precisam se familiarizar mais com os seus caprichos, mas nós os Enófilos da Bairrada estamos a disposição sempre para advogar em sua causa, e levar as suas qualidades que são o que mais se destacam no contexto das grandes castas mundiais.
Um brinde a Baga !
VINUM BAERRADINUM !!!
1º Sábado de Maio – Dia da Baga
Em 2022 foi instituído por uma Associação de sete valorosos produtores na Bairrada, os Baga Friends, o dia para homenagear e divulgar a casta que é a identidade da região. Estes sete produtores juntos somam cerca de 70 ha de Baga plantados na região demarcada da Bairrada e produzem diversos estilos de vinhos diferentes com esta casta tão especial. Uma boa razão para hoje no dia da Baga ir fazer uma visita a estes produtores que estão com uma programação especial para receber a todos que desejarem conhecer mais sobre seus vinhos com Baga. Mas caso você leitor não possa fazer este deslocamento, fica o convite para hoje abrir uma garrafa de Baga e sentir o sabor de uma região pequenina em área geográfica, mas de enorme grandeza vínica, a Bairrada.
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