O vinho sem dúvida é a bebida que atravessou a história sempre presente nas vidas e nas mesas de grandes personalidades. São muitas as pessoas importantes que tiveram diretamente uma significativa participação com o mundo dos vinhos. Resolvi escrever sobre oito nomes que representam contribuições importantes, curiosidades ou que tiveram alguma correlação com essa deliciosa bebida de Baco através da história até a atualidade, sendo descritos por ordem cronológica em que viveram.
Ele viveu na cidade de Uruk, na região da Suméria, antiga Mesopotâmia, no terceiro milênio antes de Cristo. Esse rei tinha natureza divina e humana, isso conferia a ele o poder de despertar no ser humano a sua natureza divina.
Em 1850 na região que hoje compreende o Iraque, foram encontradas através de escavações arqueológicas o registro escrito mais antigo da civilização humana até o momento, em uma tabuleta em escrita cuneiforme ( escritas feitas com objeto em formato de cunha , que assim como os hieróglifos egípcios são as formas de escrita mais antiga ), e nessa tabuleta foi encontrado o registro do Mito de Gilgamesh, que hoje está exposto no Museu Britânico.
O mito de Gilgamesh fala da história da humanidade, através da busca pela eternidade na evolução humana. O dado mais interessante para compartilhar com as pessoas que gostam de vinho, é que o Vinho é citado nesse primeiro escrito que se tem notícia, onde nele se conta a epopéia do rei sumério Gilgamesh, e nesse mito o vinho, bebida milenar, está presente e o relacionando como remédio, porção de longa vida e até a magia.
São tantas as evidências da correlação da civilização humana sempre tento presente a magnífica bebida de Baco, bebida essa que tem tanto a nos ensinar sobre história, cultura e cuidados com a nossa saúde.
“O vinho é uma bebida excelente para o homem, tanto sadio como doente, desde que usado adequadamente, de maneira moderada e conforme o seu temperamento.”
Essa é uma das célebres frases de Hipócrates.
O médico grego Hipócrates viveu no período de 460 A.C. à 377 A.C. é considerado uma das mais célebres figuras gregas e também o “Pai da Medicina”. Fez diversos experimentos para curar diversas doenças com a utilização de vários tipos de vinho. Ele era um defensor do consumo de vinho justificando que era apropriado para a humanidade , tanto para manter um corpo saudável como também para um indivíduo doente. Recomendava o vinho como complemento nutricional, diurético, laxante, antiséptico , cicatrizante de feridas e contra a febre.
Seus diversos ensinamentos foram muito importantes e graças a eles há o reconhecimento do seu trabalho e uma espécie de homenagem que é o “Juramento de Hipócrates” em que os médicos o fazem no ato das suas formaturas, comprometendo-se perante a sociedade das suas intenções.
Trecho do Juramento de Hipócrates
“Prometo que, ao exercer a arte de curar, me mostrarei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei de minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu a minha vida e minha arte de boa reputação entre os homens e para sempre. Se dele me afastar ou infringi-lo, suceda-me o contrário”.
Alexandre
“O Grande
Nascido por volta de 356 A.C. na cidade grega de Pela, é reconhecido facilmente na história pelo adjetivo que compuseram ao seu nome “O GRANDE “ , e este, foi devido seus grandes feitos que lhe levaram aos 32 anos de idade ser o único Imperador que dominou a maior parte do mundo conhecido até então.
São diversos autores que já escreveram sobre esta célebre figura da história, que teve como um dos seus mestres na juventude o filósofo Aristóteles. Na obra “Alejandro Magno, su liderazgo (2004)”, o autor aborda inúmeras pesquisas feitas sobre os hábitos desse rei da Macedônia, um dos que ele descreve é que Alexandre não bebia água, só tomava vinho todos os dias. Na época as pessoas tinham o hábito de diluir o vinho com água.
Alguns historiadores sugerem que nesse período de Alexandre, o vinho possuía muito mais grau alcoólico comparado os da atualidade, eram inclusive utilizados para tratar ferimentos com espécies de ataduras embebidas em vinho e também tratar outras enfermidades provindas das guerras. Outro aspecto interessante dessas pesquisas históricas dos estudiosos é que o imperador era conhecido por cometer diversos excessos devido está constantemente alcoolizado.
Se estima que os gregos chegaram a conhecer por volta de 300 castas diferentes, nas quais se estendia a plantação principalmente na região Norte que englobava os reinos Tracia e Macedônia, locais esses, mais propícios para a produção de vinhos tintos, encorpados e cheios de potencia.
Antes de Jesus nascer, já há relatos sobre o vinho no livro sagrado dos cristãos, a Bíblia. Para a religião cristã, o vinho além de simbolizar o sangue de Cristo, simboliza a pureza.
Na Bíblia no livro de João capítulo 2, há o relato do primeiro milagre de Jesus, que foi a transformação da água em vinho durante as bodas Caná. No relato bíblico, Jesus e seus discípulos são convidados para um casamento e, quando o vinho acaba, Jesus transforma água em vinho milagrosamente.
Em Mateus 26:26-30 há outra citação, que foi relatada em vários outros livros da bíblia também, foi o momento da última ceia de Jesus com seus discípulos, enquanto comiam, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos seus discípulos, dizendo:
“Tomem e comam; isto é o meu corpo.”
Em seguida tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos, dizendo:
“Bebam dele todos vocês. Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados.”
Imagine você leitor se até Jesus Cristo abençou o vinho e cultivou a cultura vínica por onde andou, quem sou eu para não obedecer.
Marquês de Pombal
Em 1699 nasce em Lisboa Sebastião José de Carvalho e Melo, que veio a ficar mais conhecido através do título Marquês de Pombal e Conde de Oeiras. Ele foi um grande estadista português, foi Embaixador nas cortes inglesa e austríaca, foi Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e também Ministro do Reino. Se tornou uma das figuras mais controversas e carismáticas da história portuguesa. E teve uma enorme importância para um dos ex-libris de Portugal até a atualidade, o Vinho do Porto , o vinho mais famoso do mundo.
Após os desastres naturais ( Terremoto e seguido um Tsunami ) que aconteceram em 1755 no território Português, atingindo sobretudo a capital Lisboa, o Marquês do Pombal foi nomeado para a Secretaria do Reino (1756) o que lhe deu o controle do país. Organizou um plano de reconstrução da cidade e traçou planos para a reavivar a economia do país.
Na mesma época em que se estava colocando em vigor várias leis determinadas pelo Marquês, estavam acontecendo muitas fraudes na produção do vinho do Porto, produto vínico fortificado muito cobiçado pelo mercado britânico. Portanto ele criou um série de diretrizes que regulamentavam a produção do vinho do Porto, desde as limitações das áreas em que se poderia produzir, ao qual ficaram conhecidos como marcos pombalinos (pedras de granitos) que até hoje visitando a região podemos visualizar algumas, e estas áreas de terras da região, foram todas catalogadas e escrituradas em documentos da época. Também quanto ao tipo de uva e ao seu modo de vinificação.
Graças ao Marquês de Pombal a região do Douro entrou pra história como a primeira região controlada e regulamentada, conhecida pelo mundo dos vinhos como DOC ( Denominação de Origem Controlada ).
Louis Pasteur
Foi um grande cientista francês que fez história com suas descobertas, nasceu em 1822 na cidade de Dole na região de Jura. Perante a importância das suas descobertas ganhou notoriedade e reconhecimento da comunidade científica de sua época e até da atualidade. Há em Paris o Instituto Louis Pasteur, que é uma fundação sem fins lucrativos onde hoje funciona um renomado centro de pesquisas e inúmeros estudos sendo são realizados. Ele mesmo foi o primeiro diretor do Instituto que recebe seu nome.
Esse prestigioso cientista foi incansável em seus estudos sobre microorganismos e em 1864 foi contactado por vitivinicultores e produtores de cerveja para resolver as perdas porque as bebidas azedavam e estavam causando enormes prejuízos, há autores como Stéphane Hénaut & Jeni Mitchell na obra A Deliciosa História da França, que relatam que ele trabalhou até para o governo francês da época para investigar os problemas ao qual os vinhos nacionais estavam com má fama internacional, um dos principais produtos de explotações do momento. Portanto foi através de seus estudos que foi descoberto que as leveduras eram responsáveis pela processo de fermentação dessas bebidas o VINHO e a cerveja e a partir daí propôs uma solução que foi o processo de pasteurização, com a finalidade de evitar contaminações nas bebidas e que estavam depreciando o produto.
No livro Science, Vine and Wine in Modern France (1996) o autor Harry W. Paul aborda que Louis Pasteur “Estava interessado em tudo com relação a vinha e ao vinho: regiões, vinhedos, cultivos, variedade de uva, colheita, leveduras, fermentação, diferentes métodos de vinificação, engarrafamento, envelhecimento, preservação e provas. O tratamento as leveduras, fermentação, envelhecimento e conservação passaram a ser a base da enologia moderna.”
Um dos seus primeiros trabalhos foi provar a biogênese, comprovou através de seus estudos que outro ser vivo só nasce a partir de outro ser vivo e não de uma matéria inanimada como era defendida a teoria da abiogênese. Outra descoberta foi a descoberta do dimorfismo do ácido tartárico. Descobriu também o desvio do plano de polarização da luz. Em seus principais estudos com microorganismo elaborou a vacina anti-rábica e muitos conhecimentos sobre o Antraz.
Há duas frase de Louis Pasteur, este grande cientista que ficou imortalizado na história pelo direto resultado dos seus diversos trabalhos, ao qual contribuiu até a atualidade em salvar bilhões de vidas.
“ O vinho é a mais sã e higiênicas das bebidas. “
“Há mais filosofia e sabedoria em uma garrafa de vinho, que em todos os livros.”
Antónia Adelaide Ferreira
“Dona Ferreirinha”
Dona Antónia Adelaide Ferreira sem dúvida é uma das personagens mais emblemáticas, históricas e importantes para o vinho do Porto. Uma empresária, dotada de uma visão muito além do seu tempo, ultrapassou inúmeros problemas e dificuldades como preconceito por ser mulher, intrigas políticas e até pragas que dizimaram vinhedos e que lhe causaram enorme prejuízo.
Dona de uma personalidade forte, determinada, corajosa, altruísta e ao mesmo tempo generosa , construiu um grande império ao longo de sua vida, sempre ligada a terra e as vinhas. Faleceu em 1896 com 85 anos deixando um enorme legado de exemplo e um grande patrimônio com muitas Quintas.
Uma das suas Quintas mais célebres, a Quinta da Leda, produz uvas que compõem o vinho mais afamado de Portugal, o Barca Velha e que só é produzido em anos excepcionais.
Existe um prêmio desde 1988 chamado “Prêmio Dona Antónia Adelaide Ferreira” que tem o objetivo em distinguir, personalidades femininas portuguesas que, devido às suas características humanas e capacidades de empreendedorismo, possam ter replicado de alguma forma o exemplo da Dona Ferreirinha na atualidade, através de ações que possam ter contribuído para o desenvolvimento econômico, social e cultural do Portugal.
O seu nome ficou registrado na história por suas gigantescas atrocidades cometidas. Ele tinha origem Austríaca, mas foi na Alemanha que obteve o poder como ditador sanguinário para realizar uma das maiores barbares cometidas na época moderna. Sua relação com o mundo dos vinhos é bem interessante e fica aqui registrado como curiosidade, afinal ele além de ser vegetariano, não fumava e não bebia álcool.
Ao final da Segunda Guerra Mundial ele tinha um grande tesouro repleto de obras de artes, grandes telas de pinturas, muitos metais preciosos e um verdadeiro tesouro vínico. Tudo fruto de inúmeros roubos sobre os locais por onde passava com suas tropas nazistas. Tudo o de mais valioso era levado para a sua residência principal que ficou conhecida na história como Ninho da Águia, localizada em Berchtesgaden, nos Alpes bávaros.
O escritor Don e Petie Kladstrup relata na obra Vinho & Guerra diversos trechos da história em que o nome desse tirano se entrelaça com o mundo dos vinhos, não por ele admirar ou cultivar a cultura de Baco, mas sim para atingir em cheio e no centro do alvo, o ego e o coração do povo francês, o seu produto mais precioso na época, o vinho, que tanto se entrelaça com a cultura francesa.
“Diante dele estava um tesouro pelo qual os connaisseurs dariam a vida: meio milhão de garrafas dos mais excelentes vinhos jamais fabricados, vinhos com Château Lafite-Rothschild, Château Mouton-Rothschild, Château Latour, Château d’Yquem e Romanée-Conti, empilhados em caixas de madeira ou repousando em prateleiras que tomavam praticamente cada centímetro da cave. Num canto havia Portos e Conhaques raros, muitos do século XIX.
O jovem sargento sentiu-se eletrizado e incrédulo.
Era difícil acreditar que todo aquele vinho precioso – depositado numa cave perto do topo da montanha – pertencia a um homem que não teria podido se interessar menos por ele. De fato, nem sequer gostava de vinho.
Esse homem era Adolf Hitler. “
Há outros autores que inclusive informam que ele também tinha a finalidade de ter sempre consigo bons vinhos renomados para tratar bem aos seus principais comandantes que conviviam mais próximo a ele.
Finalizo este artigo com esse pequeno resumo sobre oito personalidades históricas correlacionadas com o mundo de Baco.
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Saudações báquicas !
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8 Comentários
Leitura agradável e bastante interessante. Pra mim uma aula sobre vinhos que aliás é minha bebida preferida. Bom saber um pouco da história desses homens e mulher e sua relação com o vinho.
Adorei o artigo. Muito bacana mesmo! Meus parabéns pelo trabalho.
Um belo risoto de Bacalhau harmoniza impecavelmente com um branco com leve passagem em barrica , podendo ser com a casta Encruzado ou até mesmo um Chardonnay.
Excelente comentário.
Costumo ler seus textos, que são ótimos. Sou apreciador de vinho e cada artigo seu é um deleite para mim.
Olá Silvio , agradeço seu comentário.
Uma bela taça de vinho(muita história,cultura e paixão).Parabéns pelo belo trabalho.Muita saúde a todos nós.
Obrigado pelo comentário Clovis ! Saúde!