A rolha de cortiça é sem dúvida um dos elementos da maior importância na embalagem do vinho e desperta verdadeira paixão entre os mais diferentes tipos de enófilos nos quatro cantos do mundo. Existem vários vestígios da utilização da cortiça pelos povos do antigo Egito e na civilização romana, mas foi por volta do ano de 1680 que o monge Dom Perignon começou a usar a cortiça em maior escala, esta ida da Espanha para França, onde permitiu substituir o anterior sistema de vedação, que eram uns pauzinhos de cânhamo embebidos em azeite. Nos dias atuais esse objeto de desejo continua a ser usado contribuindo para a conservação, permitindo o envelhecimento e o “respirar” do vinho.
Esta matéria prima muito utilizada pela indústria vínica é obtida através da casca da árvore do sobreiro ( Quercus super L.), um tecido vegetal que é 100% natural e também utilizado por outros tipos de indústrias para diversos outros fins como objetos de decoração, para construção civil e até em equipamentos para a NASA, isso tudo claro , devido suas características de qualidade física como flexibilidade, elasticidade, isolamento térmico e isolamento acústico.
Seu manejo é realizado por mão de obra experiente e qualificada para fazer o descortiçamento. A extração da cortiça é um processo controlado que não requer a morte dos sobreiros, pelo contrário, contribui para a sua regeneração. É necessário em média de 25 a 30 anos para fazer a primeira extração de cortiça de um sobreiro, e pode ser realizada a cada 9 anos , que é o tempo necessário para a regeneração da cortiça. Mas só a partir da terceira tiragem “amadia” quando o sobreiro tem aproximadamente 43 anos é que a cortiça pode ser utilizada para fabricação de rolhas. Em média um sobreiro pode ter vida produtiva de até 200 anos, isso pode chegar dar 17 descortiçamentos, que geralmente acontecem nos meses Maio a Agosto quando a árvore está em seu melhor período para ser manejada.
Outro dia li a frase, ” Cortiça é o petróleo português “, acredito que realmente pode fazer sentido tal afirmação, afinal, os últimos dados estatísticos são que Portugal é o responsável por 55% da produção mundial de cortiça e o restante provém da Espanha, Itália, França, Marrocos, Tunísia e Argélia.
Após a retirada da cortiça do sobreiro, essas são levadas para secar por 9 meses e só depois começam o seu beneficiamento, que consiste em diversos passos. Primeiramente as placas de cortiça são levadas a uma espécie de cozimento com o objetivo de limpeza e para resgatar a umidade original, após as placas são cortadas em tiras, em seguida é realizada a brocagem por máquinas e em seguida se obtém as rolhas para os mais diversos tipos de categorias. O tipo de rolha escolhido pelo cliente é muito em função da qualidade do vinho a que se destina.
O começo da seleção da qualidade da rolha começa lá no momento da extração da cortiça, paramentos como a espessura e a porosidade são muito importantes, pois influenciam o tamanho da rolha que será produzida e na sua qualidade, quanto menor os “rasgos ou poros” houver , melhor a qualidade da rolha produzida e consequentemente mais valorizada. Mas em todo o processo de beneficiamento é necessário muita atenção para se preservar a qualidade. Uma boa rolha dá a capacidade de ajudar na longevidade de um vinho que se destina a longa guarda e ela deve ser capaz de não alterar o vinho. Há um defeito chamado TCA que é a contaminação na rolha pelo tricloroanisol, produto químico utilizado na limpeza da cortiça, que pode dar um cheiro de mofo ou papelão molhado ao vinho, também é chamado de bouchonée em francês.
A conservação dos grandes vinhos de guarda em garrafa é caracterizada por uma oxidação relativamente baixa de compostos, que são promovidas pelo pequeno processo de difusão do oxigênio realizada exatamente pela rolha. Esses níveis de difusão embora baixos não podem ser ignorados, nem colocados em excesso e geralmente estão ligados a conservação da própria rolha. Portanto é necessário acompanhar o processo de deterioração das propriedades físicas da rolha e este frequentemente está ligado ao nível de umidade relativa que se encontra a adega ou o local onde se armazenam os vinhos. Esse também é um parâmetro que determina se seu armazenamento esteja perfeitamente correto e que lhe possibilitará um excelente local para guarda dos seus vinhos longevos.
As rolhas podem ser de diversos tipos como:
- As feitas de uma só peça de cortiça , as ditas totalmente naturais, são uniformes e sem rasgos ou orifícios .
- As técnicas que são compostas de um corpo de cortiça aglomerada, e por um ou dois discos em cada extremidade.
- Aglomeradas essas são fabricadas a partir de granulados de cortiça oriundos das sobras de produção.
- As capsuladas que possui um corpo de cortiça natural e possuem uma fixação em uma cápsula de metal ou até outro elemento como madeira , plástico ou porcelana , são muito utilizadas em vinhos licorosos.
- Por fim a sintética que é obtida a partir de polímeros sintéticos.
**** De acordo com Estudo de Ciclo de Vida conduzido pela PriceWaterhouseCoopers em conformidade com as normas de gestão ambiental ISO 14040 e ISO 14044, cada rolha de cortiça natural é responsável pela fixação de 112 g de CO2. Anualmente são produzidas 12 mil milhões de rolhas de cortiça de todos os tipos, o que corresponde a um total de mais de 150 mil toneladas de CO2 fixado por ano. Pelo contrário, os vedantes artificiais como alumínio e plástico emitem 37,2 g e 14,8 g de CO2, respetivamente. Em comparação com as rolhas de cortiça, as emissões de um vedante de plástico são dez vezes superiores e as das cápsulas de alumínio 24 vezes mais elevadas. *****
Independente de todas as discursões sobre o tipo de rolhas que estão sendo fabricadas no mercado mundial, a poesia em abrir uma garrafa de vinho e poder retirar uma rolha de cortiça, fazendo todos os passos como uma espécie de balé e depois poder guardar esta recordação “a rolha” de momentos magníficos que tivemos ao lado de pessoas queridas, acredito eu, que nunca deixarão de ter valor, portanto meu conselho a todos é que em qualquer ocasião “metam o saca-rolhas” e vivenciem o magnífico mundo dos grandes vinhos.
Fontes:
- www.amorim.com
- https://www.amorim.com/a-cortica/mitos-e-curiosidades/A-Rolha-de-Cortica/109/
- Manual Técnico dos Vinhos, Editor Turismo de Portugal, 2014
- The Oxford Companion To Wine , Oxford University Press, 2015
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4 Comentários
O porquê das coisas e a importância de saber que uma garrafa de vinho não é simplesmente um vasilhame tem por trás toda uma técnica que faz a diferença do seu Sabor.
Exatamente Isaac, são inúmeros detalhes que o delicioso Mundo dos Vinhos possui .
Ótima matéria.. sensacional. @llvinho
Belo trabalho, mostrando em detalhes a importância da Rolha de Cortiça no mundo maravilhoso dessa milenar, exótica e saudável bebida: O Vinho!… Parabéns!!!