O vinho na grande maioria das civilizações ao qual ultrapassou sempre foi um elemento de status social, nobreza, valioso produto econômico, estando presente como figura importante em muitas disputas na geopolítica ao longo dos tempos. Para entender o papel desta bebida na história dentro deste contexto, primeiro é importante entender com clareza o que é o luxo.
Existem muitos conceitos do que é o luxo, desde os mais filosóficos e subjetivos até os mais materialistas e realistas, esses podendo serem percebidos de formas diferentes de acordo com cada indivíduo e até pelo seu nível de entendimento da sua conceitualização. Os mais partilhados são que é algo que vai além do essencial, proporcionando prazer e conforto, não sendo uma necessidade fundamental. Numa análise mais pragmática da autora aqui que vos escreve, o que gera o status de luxo a algo ou a alguém é a exclusividade, a escassez, acessível a poucos, muitas vezes o seu preço não é pelo bem em si, mas sim pelo legado “do produto ou da personalidade” com coerência e consistência ao longo da sua história.

No setor dos vinhos há uma pequena parcela de produtos que se posiciona dentro deste patamar e se voltam exclusivamente para um público seleto, e esse não só de serem grandes conhecedores de vinho em si, mas que valorizam determinado produto ou marca pelo seu valor intrínseco. Eles não compram só o líquido contido ali, esse público extremamente seleto paga, valoriza e investe pelo que o vinho representa. A comunicação da marca deste estilo de vinho é sofisticada e elegante e é voltada exclusivamente a este elitizado público.
Há alguns exemplos históricos de vinhos que mesmo antes de serem abertas as suas garrafas, só em estarem presentes num lugar, numa mesa ou numa garrafeira já mostram o poder econômico que esta pessoa possui. Na atualidade há investidores que arrematam em casas de leilões de vinhos de luxo em Londres, Nova York, Genebra, Chicago e Hong Kong, garrafas exclusivas de vinhos por valores impensáveis comparadas a obras de artes de alto valor, imobilizando capital por algum período, mas dentro de um tempo pode ter retorno com lucros importantes comparados a outros bons investimentos em outros setores. Investidores com experiência e sobretudo cultos, procuram diversificar cada vez mais onde colocam o seu dinheiro, e o setor dos vinhos, que envolve compras de garrafas ou mesmo a compra de empresas do setor, tem sido um desses locais onde fortes donos de capital tem procurado investir visando lucratividade diversificada.
Alguns dos mais famosos e históricos rótulos leiloados por preços fora da média são os franceses Romanée-Conti, Château Mouton Rothschild, Château Lafite Rothschild, Petrus, Krug Collection e o americano Screaming Eagle. Mas há outras marcas de vinho dentro do posicionamento de luxo que também são comercializadas por preços altos e se tornando pouco acessível a maioria dos consumidores. A seguir um resumo da história do vinho mais luxuoso da história até aqui, o Romanée-Conti.
O Vinho Romanée-Conti
Considerado o melhor vinho tinto do mundo o Romanée-Conti é um fenomenal néctar pelos seus atributos vínicos, mas também por possui em sua história a venda da garrafa mais cara da história pela bacatela de US$ 558.000, preço que ultrapassa 3 milhões de reais na atualidade. Isto ocorreu em 2018 na casa de leilão Sotheby’s em Nova York. Esta garrafa de 750 ml era da safra lendária 1945 e havia sido produzida antes dos vinhedos terem sido replantados. É uma das mais raras e históricas do século XX. Ela pertencia a coleção da família Drouhin, uma das mais influentes do setor do vinho na Borgonha. Uma curiosidade é que no mesmo leilão haviam 2 garrafas de Romanée-Conti 1945 de 750 ml sendo leiloadas, a primeira foi arrematada por US$ 496.000 e a segunda minutos depois por US$ 558.000, se tornando o recorde histórico do setor. Mais que um isolado recorde histórico, o vinho tem permanecido sempre como um dos mais valorizados do mundo, confirmando o conceito partilhado inicialmente neste texto sobre consistência ao longo da história.



Para entender o poder do branding de luxo da marca é preciso conhecer a história deste mítico vinho que desde seus primórdios esteve entrelaçado com a nobreza, com os monges beneditinos, com revoluções e pela paixão de uma vitivinicultura de excelência.
No século XIII o vinhedo foi cultivado pelos monges da Abadia de Saint-Vivant, estes muito atentos pois eram excepcionais vitivinicultores e identificaram logo que aquele terroir era extraordinário na região. Após passar a Idade Média todo em posse da igreja, em 1631 a propriedade é transferida passando pelas mãos de vários nobres franceses. Em 1760 o príncipe de Conti (Louis-François de Bourbon) compra o vinhedo e logo acrescenta o seu nome ao vinho. Uma curiosidade era que ele usava o vinho só para o consumo pessoal e o considerava um dos maiores tesouros da França. Quando na época da Revolução Francesa (1789) todas as propriedades da nobreza foram confiscadas pelo Estado incluindo La Romanée-Conti. Após este período foi leiloada e passou por diversas mãos. Já no século XX a propriedade foi adquirida pelas famílias Villaine e Leroy, que hoje controlam o Domaine de la Romanée-Conti.








A Domaine de La Romanée-Conti tem a abordagem biodinâmica e respeito absoluto pelo terroir, com a produção limitadíssima que não ultrapassa 5 a 6 mil garrafas por safra. Este “climat” conceito francês para entender o exato diferencial do local, está a meia encosta com orientação a leste, que permite ter acesso à luz solar durante a maior parte do dia, um microclima excepcional dentro da Côte de Nuits, na Borgonha. Já os seus solos são de calcários muito bem drenados e se tornam outro diferencial importante deste vinhedo, pela sua textura e por apresentar uma profundidade mais rasa de 60 cm, comparados os da região que são de 90 cm. Este pequeno vinhedo com 1,8 hectares produz uma Pinot Noir fabulosa, que dão origem a vinhos riquíssimos em complexidade, elegantes e com capacidade de longevidade incomparáveis, se tornando um grande destaque dentro da análise dos grandes especialistas.
Reflexão Final
Para entender o preço de um vinho fora da média no mercado é fundamental dominar o conceito do valor do luxo, afinal preço e valor são algo bem distintos. Espero que este texto possa ter contribuído com a sua percepção sobre o vinho ao longo da história como símbolo de poder econômico. Muitos outros detalhes com muito mais riqueza passando por civilizações eu abordo no meu livro, Vinho Viagem Cultural, se desejar embarcar nesta jornada de ricos conhecimentos, fica o convite a lê-lo logo que possível.
Saudações báquicas e saúde!
https://www.facebook.com/MundodosVinhosporDayaneCasal/
https://www.instagram.com/dayanecasal
https://www.twitter.com/dayanecasal

2 Comentários
Mais um Bom artigo escrito que nos ajuda a compreender melhor a Cultura,o Valor monetário e o conceito de Luxo,porque sem informação como esta nunca saberemos estabelecer ou comparar a Diferença(no caso do Vinho)entre o que se Produz para Consumo frequente e o que se Produz para continuar a Preservar e alimentar a História dos Vinhos e da Humanidade que o Trabalha e Degusta.
OBRG Dayane pela Cultura e Saber Gratuitos que nos Presenteias com Luxo.
Obrigado pelo comentário gentil. De fato é importante entender os mais diferentes mercados que o vinho está presente, seja como alimento do nosso dia a dia, seja como produto de investimento e status social.