O Sul da Itália colonizado pelos gregos era chamado por eles de Oinotria, que significa “terra do vinho”, mais tarde os romanos chamaram a estas terras de Enotria. A história do vinho neste país ultrapassou vários períodos da história, vindo a se tornar o império romano o maior propagador da cultura vínica no mundo. Este país abriga de norte a sul uma enorme variedade de terroirs e de produção de estilos de vinhos diferentes, possibilitando uma enriquecedora jornada desvendar cada região vitivinícola. A Sicília, maior ilha do mediterrâneo, localizada no sul é um destino imperdível a quem ama o universo da cultura vínica com diversos locais vitícolas diferentes.
Por essas terras está o vulcão Etna, sendo o mais alto da Europa e em atividade, e na área demarcada do mapa o desenho lembra uma ferradura formada em seu sopé, nela estão implantados vinhedos de forma heróica, que insistem em desafiar ao próprio vulcão.
Descrição do Terroir DOC Etna
A DOC Etna foi estabelecida em 1968, sendo a primeira da Sicília e uma das primeiras da Itália, desde então nunca foi alterada ou revista. Em sua área demarcada ocorrem diariamente pequenos terremotos e tremores pois está sob a junção de duas placas tectônicas, além da atividade vulcânica em si. Ao redor das quatro bocas com as crateras do Etna podemos encontrar uma incrível mistura de exposições ao qual os vinhedos estão implantados inclusive com diferentes altitudes que se estendem de 480 a 1300 metros acima do nível do mar, intensidades de ventilação, com predominância de vinhas antigas em solos de variadas texturas de magma cristalizado de diversos períodos da história. Todos esses detalhes somados tornam cada vinho do Etna diferente um do outro. A viticultura em grande parte não permite mecanização o que torna a mão-de-obra um custo importante a ser considerado no preço do vinho.
Uma curiosidade na legislação da DOC Etna é que vinhos produzidos acima de 1000 metros de altitude não podem ser classificados como DOC. Os produtores já estão se mobilizando para alterar esta legislação antiga e que prejudica esses heróis que se dedicam diariamente a cultivar a Vitis nas áreas da montanha. A produção é dividida em 133 Contrade “distritos” distribuídas na encosta norte, na encosta sul, na encosta sudeste e sudoeste, na encosta nordeste, como ilustrado no mapa acima.
Pela maioria da área percorrida podemos visualizar vinhas plantadas em sistema de vaso “gobolet” e em alguns vinhedos mais jovens observa-se o sistema de espaldeira com guyot duplo. Um detalhe curioso que pode ser observado, é a prática “comum na região” do sistema de mergulhia, onde se enterra parte de uma vara da planta mãe com a ponta para fora da terra, para dar origem a uma nova planta com as características genéticas da planta ao lado.
Clima – DOC Etna
Os verões são quentes e os invernos são frios e rigorosos expondo as uvas a grandes variações de amplitude térmica. As diferenças de altitude contribuem para uma variedade de micro-climas. O nível pluviométrico também varia dependendo da localização das vinhas, podendo chegar em algumas áreas frentes ao mar a índices com 2000 mm/ano, e este fenômeno ocorre devido a corrente de vapor d’agua quente que segue até a área da montanha e chegando lá recebe um choque térmico formado por uma barreira de ar frio que se condensa e formando chuvas. Já em outras áreas o índice pluviométrico é baixo o que contribui para sanidade dos vinhedos.
Solo – DOC Etna
Solos vulcânicos ricos em basalto se alteram em características que variam de cinzas finas até granulosas pedras, com características de períodos históricos bem diferentes uma das outras. A composição do solo influência a percepção de mineralidade tão presente nos vinhos PDO Etna .
Castas – DOC Etna
As principais castas produzidas na região “Montagne”, como os locais chamam ao Etna são as brancas Carricante, a Minella Bianca, a Catarratto, a Trebbiano e a Grecanico, já as tintas mais comuns são Nerello Mascalese e a Nerello Cappuccio, mais também podemos encontrar a Pinot Nero e a Grenache com menor área de encepamento.
A Nerello Mascalese é a casta mais plantada nas encostas do Etna, uma cepa que especialistas comparam com a Nebbiolo devido o longo ciclo e com a Pinot Noir por ser mais sensível “melindrosa” a qualquer mudança nas condições locais. Seus bagos apresentam película grossa e de cor azul. Com esta uva são produzidos os vinhos tintos, tintos riserva, rosés e os espumantes do Etna. É permitido até 10% de uvas brancas dentro de blends dos vinhos tintos.
Em visita in loco observei a utilização em alguns vinhedos de caulino, que é um mineral natural formado pela caulinita, em geral de cor branca, utilizado em diferentes situações e que na viticultura tem sido empregado como uma espécie de “filtro solar” nas áreas onde ocorrem insolações rigorosas, para evitar desidratação dos bagos como no exemplo da imagem acima.
Estilos de Vinhos – DOC Etna
A seguir uma descrição das classificações dos vinhos do PDO Etna, que diferem em alguns detalhes entre Etna Branco, Etna Branco Superior, Etna Tinto, Etna Tinto Riserva, Etna Rosé, Etna Espumante.
Etna Branco | Casta Carricante podendo ser em varietal ou blends que contenham no mínimo 60% dela. A Catarratto Comune ou Lucido podem estar em até 40% do blend. Outras castas indígenas podem estar em até 10% do blend. |
Etna Branco Superior | Casta Carricante em varietal ou mínimo de 80% do blend com mais 20% de outras castas indígenas. |
Etna Tinto | Nerello Mascalese em varietal ou mínimo de 80% do blend com mais 20% de Nerello Cappuccio, ou no máximo de 10% de outras castas indígenas |
Etna Tinto Reserva | Nerello Mascalese em varietal ou mínimo de 80% do blend com mais 20% de Nerello Cappuccio, ou no máximo de 10% de outras castas indígenas * 4 anos de estágio, sendo 12 meses mínimo em madeira (barrica). |
Etna Rosé | Nerello Mascalese em varietal ou mínimo de 80% do blend com mais 20% de Nerello Cappuccio, ou no máximo de 10% de outras castas indígenas |
Etna Espumante Branco / Rosé | Nerello Mascalese em varietal ou mínimo de 80% do blend com mais 20% de outras castas indígenas. |
Os vinho vinificados a partir da Nerello Mascalese apresentam alto teor de álcool, alta acidez, cor rubi intensa, presença da mineralidade, média estrutura, bom equilíbrio e adstringência.
Enoturismo na Região do Etna
A região possui diversas atrações que envolvem o setor do enoturismo, onde pode-se conhecer com riqueza de detalhes a produção dos vinhos produzidos na área e também outros produtos agroalimentares como mel, azeite de oliva, ervas e demais especiarias e condimentos.
Partilho a seguir dois produtores de dimensões e estilos de vinhos bem diferentes que vale a pena fazer a visita, o primeiro Emilio Sciacca Etna Wine, localizado em Linguaglossa e possui o slogan “Vinho, Homem, Natureza, Etna” com a filosofia ” para um vinho ético e natural”. A empresa nasceu em 2015, a primeira vindima foi realizada em 2018, também possuem vinhas em Biancavilla, onde utilizam vinhas para fazer ajustes nos blends de seus vinhos.
O outro produtor é Tenute Orestiade Winery, um produtor com maior dimensão e que produz vinhos em diversos terroirs na Sicília. No DOC Etna a adega e os vinhedos estão localizados em Mascali, com belíssimas vistas e com possibilidade de estadia em suas instalações.
Este exótico e incrível terroir do mundo dos vinhos reserva além de inúmeras paisagens belíssimas e um povo heróico e resiliente, possui enriquecedoras possibilidades em percebermos aromas e sabores em vinhos que são verdadeiras obras de arte entre a natureza e a ação humana. Deixo-vos uma sugestão de colocarem em seus próximos destinos de enoturismo uma visita ” a Montagne” o Etna.
Boas provas e saudações báquicas !
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