A encantadora região vitivinícola da Bairrada se localiza centro norte de Portugal, beirando o litoral até encontrar com as serras do Caramulo e Bussaco, o que lhe confere excelentes condições para produzir vinhos fantásticos. Esta região possui uma história muito antiga na produção vínica. Tive a oportunidade de ler outro dia, um artigo escrito por um amigo bairradino em que ele mencionava que até há registros dos impostos pagos ao rei Afonso Henrique, e esses, oriundos da produção de vinhos da Bairrada.
As principais características desse terroir são solos argilo-calcários e parcelas de solos arenoso. A argila é uma rocha sedimentar com uma grande capacidade de reter água e baixa capacidade de drenagem. Esses solos se caracterizam por serem frescos e com alta acidez. Esta região que compreende desde a costa do Atlântico até se encontrar com à fronteira da região do Dão, recebe influências marítimas com uma boa amplitude térmica no período em que as uvas amadurecem, seu clima temperado e bem marcado recebe influência direta do Oceano. Nas estações do ano podemos observar que os invernos são frescos, longos e chuvosos, já os verões são quentes, mas suavizados com a presença de ventos do Oeste e Noroeste, isso em maior proporção quando perto ao mar.
A Bairrada é uma região vinícola portuguesa de riquezas e belezas sem igual, possui a classificação Denominação de Origem Controlada (DOC) e destaca-se pelos tintos de cor densa e com elevados taninos e enorme capacidade de longevidade. Falar em Bairrada é falar de grandes vinhos tintos portugueses, e esses têm se destacado a nível mundial.
Na terra da uva Baga* predominam os tintos encorpados, de cor granada à rubi, apresentando nuances acastanhadas com o envelhecimento. Seu aroma é frutado quando jovem, e com a evolução da idade se tornam mais complexos. O sabor é harmônico, onde podemos perceber uma sólida estrutura. Dentre as principais uvas cultivadas podemos destacar além da Baga*, as Touringa Nacional, Castelão, Aragonez e entre as representantes estrangeiras como a Cabernet Sauvignon, Syrah, Pinot Noir e Merlot.
Nessa região também se produz vinhos brancos esplendidos, com aromas e sabores que encantam qualquer enófila como eu. As castas mais produzidas são Arinto, Bical, Maria Gomes e Cercial. Conheço inúmeros vinhos brancos da Bairrada, e venho percebendo que nos últimos anos eles tem se expandido em qualidades arrastando diversos prêmios mundiais.
Essa região produz espumantes elegantíssimos, da mais alta qualidade e cheios de riquezas de aromas e sabores resultado da diversidade de solos. Por volta de dois terços dos vinhos espumantes portugueses são produzidos na Bairrada, a região é responsável pela venda anual de cerca de oito milhões de garrafas. Foi uma das primeiras regiões de Portugal a adotar e a produzir esses vinhos pelo método champanhes. O clima fresco e húmido favorece a sua elaboração, proporcionando uvas de acidez elevada e baixa graduação alcoólica.
Compartilho a experiencia que fui presenteada por um produtor de espumantes na região, o presente foi uma belíssima e emocionante prova vertical de maravilhosos espumantes da Quinta dos Abibes com as castas Arinto e Baga das safras 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013. Uma bela experiência ao qual posso resumir em poucas palavras , esses espumantes da Bairrada sabem envelhecer e bem !!!
Na capital do espumante português, na cidade de Anadia, pode-se fazer desde uma visita ao Museu do Vinho da Bairrada, que fica ao lado da escola de Viticultura e Enologia da Bairrada, e também fazer inúmeras visitas à produtores desses néctares e poder conferir in loco a qualidade e o perfil diversificado dos espumantes bairradinos, que podem ir dos brancos, rosés e até aos maravilhosos espumantes tintos.
A “Rota dos Vinhos da Bairrada“, é um destino que recomendo a todos , aos que já são grandes conhecedores, mas também aquelas pessoas que estão começando a se interessar pelo mundo dos vinhos. Passeando nesta área geográfica podemos ter a dimensão da vastidão dos tipos e qualidades de vinhos que a Bairrada está produzindo nesse momento, apesar de ser um pequeno terroir em termos de área geográfica.
Um detalhe de extrema importância é a conversa diretamente com os produtores, amo fazer isso, pois só assim conhecemos os detalhes a que eles se dedicam diariamente e que fazem durante todo o processo da produção dos seus vinhos.
Na Bairrada há inúmeros produtores com diferentes perfis de produção e tamanho, a Quinta do Ortigão por exemplo têm além de uma importância histórica nos espumantes na Bairrada, possui uma produção diversificada de néctares deliciosos para todos os tipos de gosto e de consumo. Há também os pequenos projetos vínicos como os dos vinhos PGA, que é a sigla de Pedro Guilherme Andrade , um enólogo apaixonado e que faz inúmeros trabalhos diversificados na região, mas que resolveu fazer o seu próprio vinho com sua identidade.
A Confraria dos Enófilos da Bairrada a qual tenho muita honra de pertencer, é a confraria vínica mais antiga de Portugal em atividade, esse ano completa 40 anos e haverá uma comemoração pra lá de especial comandada pela Presidente Célia Alves. Os confrades e as confreiras dessa confraria tem o objetivo estatutário de defesa, prestigio, valorização e propaganda dos vinhos da Bairrada e dos vinhos portugueses em geral.
O leitão à Bairrada cabe um capítulo a parte, é uma das mais conhecidas iguarias da gastronomia portuguesa, o que deixam os bairradinos cheios de orgulho por tantas delícias de suas terras. Quem pisa em solo bairradino não pode deixar de degustar. Existem inúmeros lugares que assam e vendem o leitão, mas há uns que realmente valem a indicação, se estiver passando pela Mealhada, sem dúvida recomendo o Pedro dos Leitões, se estiver mais próximo de Aguada de Cima a indicação é a Casa Vidal, mas se você é morador, provavelmente você conhece muito bem alguns assadores que o fazem em fornos em suas casas e são simplesmente espetaculares. Tive a honra de provar o Soares dos Leitões e fiquei encantada.
Aqui além de leitão há inúmeros outros deliciosos pratos gastronômicos desde frutos do mar, chanfanas, arroz de galo e os deliciosos cabritos. Existem vários chefs que valem toda a minha referência pela bela cozinha de qualidade que apresentam ao servirem seus clientes com tanto amor ao que fazem. No parque da Mealhada tem o restaurante Magnun’s & co especializado em peixes e frutos do mar, mas serve também uma bela carne galega maturada que o Chef Domingos Gonçalo faz divinamente. Em Anadia tem o novíssimo Quatro Estações, com o Chef Carlos Fernandes com um ambiente e gastronomia fantásticos. Já em Águeda junto ao rio tem o Manjar da Helena, comandado pelo Chef Pedro Guarino que coloca em cada prato uma porção do seu próprio coração, cheio de amor ao que faz.
Na Bairrada há inúmeros passeios culturais que de uma forma ou outra se correlacionam com a cultura vínica, que está intrinsicamente ligada a região. Sugiro como visita obrigatória o Palácio do Bussaco, último palácio dos reis de Portugal, está cravado no seio da Mata Nacional da Serra do Bussaco, sua arquitetura Neomanuelina é um luxo só, cheia de riquezas em detalhes e desde os anos de 1917 abriga um hotel de luxo na região.
Possui um jardim magnífico e é nesse palácio que anualmente acontece o Grande Capítulo dos Enófilos da Bairrada, em noite de gala os Confrades e Confreiras sobem a serra vindos dos quatro cantos do mundo para festejarem os vinhos da Bairrada. Nesse lendário palácio de conto de fadas, há longe das vistas de todos, uma adega impressionante, lendária e mística, onde lá descansam vinhos do BUSSACO lendários.
Compartilho uma experiencia ímpar em minha vida, que agradeço imenso ao amigo Antônio Rocha que me proporcionou uma degustação de um vinho do Bussaco da safra 1983 com as castas Baga e Touringa Nacional, fazendo a união de dois terroir ( Bairrada e Dão), que fazem parte dos vinhos esplendidos do Palácio do Bussaco, o vinho estava impecavelmente maravilhoso como os grandes vinhos da Bairrada e do Dão devem estar, pois esses tem essa especificidade de enorme longevidade. Só tive que ajoelhar e agradecer poder vivenciar algo tão especial para uma enófila apaixonada como eu.
Peço licença aos amigos que aqui lêem minhas palavras para compartilhar um sentimento de enorme gratidão que sinto a esses dois seres humanos SENSACIONAIS e que se eu não os abraçasse fisicamente, diria até que não existem, Eng. Celestino Almeida e Prof(a) Alexandrina Almeida. Se existe uma paixão dentro de mim gigante pela Bairrada esses dois são os responsáveis por ela. Em quase uma década de andanças pela Bairrada fui apresentada a tantos sítios e pessoas diferentes, foram mais de centenas de taças de vinho bairradinos e incontáveis flutes de espumantes da Bairrada degustados juntos, e sempre envoltos de muitas informações que me despertaram verdadeiro amor pela região, por sua história, suas tradições, sua cultura, sua gastronomia, sua gente , mas sobretudo pela rainha, a “BAGA”.
Um enorme bem haja a todos os bairradinos, viva a Bairrada e viva o Vinum Baerradinum !!!
FONTE : Meu coração bairradino ❤️
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3 Comentários
A paixão nos faz realizar com profundidade os mais belos prazeres da Vida, fazer a rota sugerida e degustar os néctares com toda calma no tempo programado. Parabéns por divulgar toda essa beleza com detalhes de informações importantes e relevantes. Obrigado!
conhecimento incrível, nos apaixonamos também pela BAIRRADA…
É possível ver o brilho no seu olhar… é possível sentir o amor naquilo que vc faz… Isso que transforma suas publicações e depoimentos, tão enriquecidos de detalhes, em algo especial e envolvente! Parabéns!